No lixo
Na fila do banco, ela impaciente esperava sua vez de usar o caixa eletrônico. Enquanto isso tentava encontrar dentro da bolsa o celular que tocava insistentemente. Acabou por derrubar sua agenda e não conseguiu achar o bendito aparelhinho tremulante a tempo de atender a ligação.
Na fila do banco, ela impaciente esperava sua vez de usar o caixa eletrônico. Enquanto isso tentava encontrar dentro da bolsa o celular que tocava insistentemente. Acabou por derrubar sua agenda e não conseguiu achar o bendito aparelhinho tremulante a tempo de atender a ligação.
No banco ele preenchia um envelope com seus dados para um depósito. Ao dirigir-se ao caixa achou graça da procura quase que desesperada de uma moça por algum objeto dentro de sua bolsa. Viu quando a mesma derrubou um dos inúmeros itens daquele acessório feminino sempre tão recheado de coisas, e aproximou-se pra tentar ajudá-la.
-Ai que ódio dessa bolsa. - ela pensou alto.
-Sua agenda, moça! - disse ele, entregando-lhe a agenda e todos os papéis que caíram dela.
-Ah! obrigada. Nem tinha percebido que tinha caído. - agradeceu, um tanto indiferente a gentileza, e continuou pensando alto -Acho que preciso mesmo de uma bolsa maior.
Ele tentou disfarçar o riso.
-Qual a graça? - perguntou, contrariada.
-Nada. - respondeu ele, ainda sorrindo.
Ela também sorriu, quase que sem querer.
-Você fica muito mais bonita assim, sorrindo! - continuou ele, deixando-a com as bochechas vermelhas.
Ela nada conseguiu dizer.
A fila andou com uma rapidez rara em dias de fim de mês. Sem mais. Movimentações bancárias feitas, seguiram cada um seu destino. Ela despediu-se com um aceno discreto, ele respondeu o cumprimento com mais um sorriso.
Dia corrido, muitas coisas a resolver ela tinha. Mesmo assim, se distraía lembrando do rapaz do banco, do elogio que recebera, do sorriso que ele estampava no rosto e que a contagiou, não só naquele instante mas durante todo o dia. Sentiu uma pontinha de vontade de vê-lo de novo. Mas como nunca fez o tipo sonhadora, acabou por aceitar o fato de que nunca mais o encontraria.
Passaram-se os dias. Mais uma vez estava ela revirando sua bolsa, dessa vez procurando a chave do carro. E de novo a agenda foi ao chão e de dentro dela caiu um pedaço de papel. Nele havia um número de telefone e um nome: Rafael. Irritada com o fato de não conseguir encontrar nada em meio a tanta bagunça, ela não percebeu que no verso do tal papelzinho havia desenhado um rostinho feliz, jogou-o de volta na bolsa.
Chegando em casa resolveu por, finalmente, organizar suas coisas. É incrível como em bolsa de mulher tem de tudo um pouco. Tirou aquilo que achava desnecessário carregar, jogou fora embalagem de bala, nota fiscal de compra, panfleto de propaganda, extratos bancários e o papel com o nome, o telefone, o sorriso... Jogou no lixo, sem querer, o amor.
[Meu primeiro, último e único post naquele que deveria ter sido um lugar pra eu brincar de escrever 'mentirinhas' - já que por aqui eu só falo de coisas da minha vida real. Não vingou meu projeto paralelo... Antes um blog deletado que um espaço abandonado. Prefiro ficar apenas cá com meus botões.]