quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A marca de uma lágrima



Dizem que na vida a única certeza que todo mundo tem é a morte. Quando criança eu achava que as pessoas que eu amo nunca iam morrer. A primeira vez, que me lembro, de ter lidado com a morte foi quando a irmã de uns amigos meus faleceu precocemente, aos 16 anos. O sofrimento da mãe deles me deixava confusa, ela não parava de chorar nunca e eu não conseguia compreender o tamanho da dor que aquela mulher tava sentindo. Vi pessoas perdendo pessoas durante muito tempo de longe, só de longe. 

Pra mim, o meu amor protegia os meus, fazendo-os imortais, como os super-heróis. Só quando eu tinha 10 anos tive que encarar a morte de mais perto. Meu avô faleceu e, embora eu tenha brincado com meus primos o velório todo, quando jogaram a primeira pá de terra sobre o caixão de vovô meu pai me abraçou e chorou pela primeira e única vez a perda do pai dele. Ali, naquele momento, era como se eu pudesse sentir a dor do meu pai e doeu em mim também. Aos 17 anos eu perdi minha vó. Eu senti essa perda como nenhuma outra antes. Durante 8 longos dias meus pais choraram juntos todas as noites a morte da minha vó e até hoje eu choro todas as vezes que me lembro dela. Me recusei a vê-la morta. Acho que na minha cabeça eu ainda queria acreditar que ela ia viver pra sempre. Não me arrependo da escolha que fiz, mesmo que no momento, muita gente não tenha me entendido. Quis ter todas as lembranças da minha vovó Severina bem viva e sorrindo pra mim e é assim que, até hoje, 7 anos depois, lembro dela. É imensa a falta que ela faz e ainda é difícil acreditar que ela não tá mais aqui. 

Eu cresci, aos 24 anos eu percebo que aprendi que a morte faz parte da vida de todo mundo, inclusive da minha. Aprendi também que não adianta dizer ou fazer nada pra tentar diminuir a dor que perder alguém provoca. A verdade é que mesmo depois de perder pessoas tão importantes, o tempo passa, a vida continua. E conforme os anos vão passando esses entes queridos não são esquecidos, mas aquela dor que parecia tão insuportável se transforma em uma espécie de saudade, que não deixa de doer, só incomoda menos. Acho que Deus faz isso com a gente, pra que continuar vivendo não seja uma tarefa impossível. Ele nos dá força, dá motivos pra seguir. Ele não tira nada da gente, não leva ninguém que a gente ama pra junto dele. E essa verdade foi outra coisa que eu aprendi. 

Ultimamente, ando vendo muita gente perder pessoas que amam. De longe. Só que agora, eu sinto a dor de cada um de perto. Bem perto. A frequência com que isso vem acontecendo me assusta. Se quando criança eu me sentia segura com a imortalidade dos meus heróis, agora tenho medo por saber que aqueles que eu amo são simples mortais.

"Com isso ouvi uma voz alta do trono dizer: 
“Eis que a tenda de Deus está com a humanidade
e ele residirá com eles e eles serão os seus povos. 
E o próprio Deus estará com eles. 
E enxugará dos seus olhos toda lágrima, 
e não haverá mais morte
nem haverá mais pranto, 
nem clamor, nem dor. 
As coisas anteriores já passaram.”
(Revelação 21:3,4)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Faz parte do meu show!

Desde muito cedo na vida a gente escuta a famosa pergunta: o que você quer ser quando crescer? Quando eu era bem pirralha queria ser médica, depois Chiquitita (dançar o "mexe mexe lá" no SBT e morar na Argentina). Já na escola lembro que no primeiro ano me fizeram essa pergunta e eu respondi que queria fazer faculdade de Ralações Públicas ou Turismo, mesmo sem fazer ideia do que fossem essas profissões. Na hora de fazer o bendito vestibular eu não tinha noção do que fazer. O que eu sabia é que gostava de humanas, não tinha o menor talento pra exatas e que saúde era mesmo quem tava dando emprego. Minha mãe queria que eu fizesse enfermagem, meu pai queria que eu fizesse qualquer coisa só não parasse de estudar, meu irmão não deu palpite e eu fui lá e me inscrevi pra concorrer a uma vaga no curso de Letras. Fiz a prova, passei em primeiro lugar no curso e tranquei a faculdade um mês depois das aulas começarem. Só que ficar em casa sem fazer nada num é legal. Nunca tive o menor talento pra comércio, nunca tinha trabalhado na vida, a única coisa que eu sempre soube fazer e bem era estudar, eu precisava usar isso a meu favor e ganhar dinheiro. Depois de 6 meses de tédio e vida mansa, resolvi dar um rumo a minha vida. Li sobre alguns cursos, faculdades, mercado de trabalho. Apresentei as possibilidades pro aval financeiro do meu pai. Entre Fisioterapia e Nutrição as sábias palavras da minha mãe me levaram a decisão que mudaria minha vida: "Fisioterapia tem muito nome de osso pra tu aprender, faz Nutrição mesmo". E por mais contraditório que possa parecer, anatomia foi a minha matéria favorita no ensino superior e na qual eu alcancei a maior média entre todas as disciplinas que eu paguei no curso. Foram 4 anos de sofrimentos, dos quais não tenho a menor saudade e que, graças a Deus, passaram. Não foi um sonho de criança, nem resultado de um teste vocacional, muito menos aptidão ou influencia direta de alguém. A vida me fez nutricionista. E, de verdade, eu no lugar dela, não teria feito escolha melhor.